Guerra comercial de Trump: veja a linha do tempo da aplicação de tarifas contra o Brasil
Decisão inclui motivações políticas, como defesa de Bolsonaro, e ameaça setores-chave da economia brasileira

Donald Trump tarifas |Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP
Na última quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comunicou oficialmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que elevará as tarifas de importação sobre produtos brasileiros de 10% para 50%. A nova alíquota entra em vigor no dia 1º de agosto de 2025 e, segundo Trump, a decisão envolve razões políticas, com críticas diretas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, classificado como uma “caça às bruxas”.
A medida marca uma escalada nas tensões diplomáticas entre os dois países e ameaça setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio, o petróleo, o setor aeroespacial e as exportações de cobre. O Brasil, por sua vez, promete adotar medidas legais e diplomáticas para tentar reverter os impactos.
Linha do tempo das tensões
A política de tarifas "recíprocas" de Trump teve início em 2 de abril de 2025, com uma alíquota-base de 10% para diversos países, incluindo o Brasil. Após pressões internacionais, a implementação foi adiada para 1º de agosto. No entanto, em 9 de julho, Trump não apenas manteve o plano como oficializou o aumento para 50%, justificando inclusive a taxação do cobre por questões de segurança nacional, amparado pela Seção 232 da legislação americana.
No dia 15, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) iniciou uma investigação sob a Seção 301, alegando que o Brasil adota práticas comerciais “injustas”, como tarifas preferenciais e barreiras ao comércio digital. Entre os dias 16 e 18, o Itamaraty intensificou as negociações para evitar a entrada em vigor das novas tarifas.
Paralelamente, a crise política interna se aprofundou. A Suprema Corte brasileira impôs novas restrições a Jair Bolsonaro, após indícios de possível conluio com Trump para influenciar decisões judiciais. O ministro Alexandre de Moraes relacionou diretamente a escalada tarifária americana a tentativas de interferência no Judiciário brasileiro.
Impacto econômico
Os efeitos da medida podem ser profundos. Setores como café, carne, laranja, petróleo, aeronaves (Embraer) e cobre serão duramente atingidos. A Reuters relatou, no dia 16, uma corrida de importadores norte-americanos para antecipar a compra de café brasileiro, prevendo aumento nos preços. Exportadores estimam que o Brasil poderá redirecionar parte dessas vendas para a Europa e Ásia.
Na agropecuária, a carne bovina poderá sofrer uma tarifa total de até 76%, o que deve impactar diretamente o consumidor americano, elevando o preço de produtos como hambúrgueres. No setor aeroespacial, a Embraer classificou os impactos como comparáveis aos sofridos durante a pandemia da COVID-19.
Reação do governo Lula
O Palácio do Planalto reafirmou seu compromisso com a negociação e afirmou ter apresentado propostas formais aos EUA ainda em maio. Contudo, o presidente Lula declarou que “não aceitará interferência externa na Justiça brasileira” e prometeu aplicar a lei de reciprocidade econômica, caso as tarifas sejam implementadas.
Internamente, o STF também se manifestou. O ministro Alexandre de Moraes acusou a administração Trump de tentar provocar uma crise econômica no Brasil para pressionar decisões judiciais, sobretudo no caso Bolsonaro.
Um novo capítulo no protecionismo
A decisão de Trump de impor uma tarifa generalizada de 50% sobre produtos brasileiros marca um dos episódios mais contundentes de protecionismo econômico dos últimos anos. Ao misturar interesses comerciais com uma agenda política internacional, o governo norte-americano acirra a polarização e força o Brasil a buscar apoio internacional, alternativas de exportação e caminhos jurídicos na tentativa de mitigar os danos financeiros e institucionais.
Enquanto isso, o relógio corre para o dia 1º de agosto prazo final antes da entrada em vigor das novas tarifas com negociações diplomáticas intensificadas e um cenário internacional cada vez mais volátil.